quarta-feira, 26 de maio de 2010

Céu de Vileza


Eu não tinha estes lábios de hoje,
assim calmos, assim serenos,
assim amargos
(e estes sorrisos retesados que
nada anunciam)

Não tinha estas pálpebras cinzas,
como todo o amor, o beijo
e suas coisas mais que findas

Não tinha suas bailarinas
dançando com tanta leveza e
levantando seus véus, que
agora escorrem pela escada de vileza

Tinha o teto de espelhos,
onde lhe procurava
e tentava tirar nosso sonho
de dentro das ondas,
com minhas duas mãos quebradas

Ouve:
Traz-me um pouco da luz serena,
que veste de alvura a paz do dia
Um pouco da lembrança
que sustenta, numa flor,
uma pétala de esperança

Deixa-me fechar os olhos
e viajar para longe,
pois o beijo que me deste,
agora mergulha na memória fina
(e lá se esconde)

E permita enfim que eu volte
para o meu fugidio instante,
pois o mundo é maior que
este céu em que não se pode imaginar.
É vil o tempo em que, sonhando,
pus-me a lhe esperar.